Pois para não utilizar as árvores, teríamos de ser seres anaeróbios, pois dependemos do oxigênio que elas produzem para viver. Utilizamos as árvores para amenizar as tórridas temperaturas do verão porto-alegrense, impedindo que o asfalto e o concreto da cidade absorvam todo o calor e transformem a cidade num forno. Utilizamos as árvores da praça Júlio Mesquita, da Anita Garibaldi e de toda Porto Alegre para deixar nossa cidade mais bonita, mesmo quando o governo municipal não cumpre o seu papel de preservar os espaços públicos. Utilizamos as árvores da praça Júlio Mesquita como sombra para nos proteger do sol implacável, enquanto esperamos os ônibus (que freqüentemente passam com intervalos longos demais).
E o pior no episódio todo é que a justificativa para a obra que exige a derrubada de todas as 118 árvores é uma furada! Em seu blog pessoal o prefeito José Fortunati disse que uma das razões da obra é:
“o fato de naquela área termos um dos principais focos de poluição ambiental pelo engarrafamento diário com a emissão de gases pelos automóveis. Isso mostra que a necessidade da duplicação da via é também uma questão ambiental e não somente um problema de mobilidade.”
Em primeiro lugar, senhor prefeito, alargar vias nunca resolveu congestionamento em lugar nenhum do mundo. Até mesmo Brasília, que foi criada para tendo o automóvel como principal meio de deslocamento, hoje tem problemas de trânsito até mesmo no Eixo Monumental, que possui 12 faixas (seis em cada sentido).
Se vias largas e viadutos fossem bons para uma cidade, Los Angeles seria a melhor cidade do mundo. Mas não é. As grandes capitais com maior qualidade de vida são aquelas que investem em transporte coletivo e outras alternativas ao uso do automóvel particular e restringem o uso do carro – inclusive retiram faixas e fecham ruas para os carros! É o que vem fazendo Nova Iorque, Paris, Londres, Amsterdam, Copenhague, Seul, e até mesmo Bogotá, na nossa vizinha Colômbia. Não existe uma única cidade no mundo que tenha resolvido seus problemas de congestionamentos alargando vias e criando viadutos.
Além disso temos que agüentar um prefeito que, além de falar besteira, ainda é arrogante ao pensar que as pessoas são contra a obra por falta de informação a respeito, ao decidir paralisar as obras para “prestar esclarecimentos à população”. A única ignorância, se existe, na história toda é por parte da administração municipal, que acredita ou finge que acredita na história da carochinha de que o alargamento de uma via vai melhorar a mobilidade urbana e (risos) diminuir a poluição do ar.